Estudo aponta contradições e baixa transparência da política nuclear brasileira

Publicado em 10 de abril de 2014 no Terra.

 

 

 

 

 

 

Com a epígrafe “O Brasil não é para iniciantes”, a estudiosa da questão nuclear Togzhan Kassenova toma emprestado de Antonio Carlos Jobim uma forma de caracterizar o que chama de obscura política brasileira nesse campo.

É como se ela escrevesse um “vai entender?” no estudo que preparou para a organização Carnegie Endowment for International Peace, intitulado Brazil’s Nuclear Kaleidoscope – an evolving identity, como parte de seu trabalho de pesquisa sobre o papel de forças emergentes na ordem nuclear global, segurança e não-proliferação de armas de destruição em massa.

Sim, o Brasil está no radar dessas pesquisas, e o que se pode chamar de caixa preta da política nuclear brasileira aparece como motivo de aflição. Isso porque, segundo o estudo, as escolhas do País têm peso na ordem nuclear global e regional, com impacto no equilíbrio de poder.

“Para um país cuja importância na ordem nuclear global é potencialmente significativo, notadamente pouco se sabe sobre as diretrizes nacionais que estão por trás das decisões nesta área”, afirma Togzhan. A referência a caleidoscópio no título desse estudo recentemente lançado deve-se à observação que, embora os elementos do cenário brasileiro sejam os mesmos, a recombinação entre eles cria formatos em constante mutação, confundindo o espectador.

Sendo o Brasil um non-nuclear weapon state (estado não detentor de armas nucleares), ela lista uma série de questionamentos. Por que o Brasil está construindo um submarino nuclear pra defender sua costa? Por que o Brasil deseja possuir a sua própria capacidade de enriquecimento de urânio? Por que o Brasil é relutante em assinar um protocolo adicional da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que daria maior acesso às instalações nucleares? Por que Brasil tenta mediar um acordo nuclear com o Irã?

“As motivações por trás das escolhas políticas brasileiras são complexas, confusas e por vezes contraditórias”, conclui. Uma explicação que arrisca é a de que as raízes militares, lançadas no período da ditadura, têm uma influência constante sobre o programa nuclear de hoje. A competição com a Argentina ver quem ganharia a corrida de seu programa nuclear também teria contribuído para isso. (Hoje, os dois países trabalham juntos em um regime de salvaguardas para verificar se suas atividades são pacíficas.)

Para a pesquisadora, o Brasil tem o potencial de desempenhar um papel proeminente na ordem nuclear global, mas resta saber se fará isso e como fará.

O estudo levou dois anos de pesquisa e entrevista com analistas, acadêmicos, representantes da indústria nuclear, políticos e jornalistas.

Para lembrar, o “Brasil nuclear” não é só feito das usinas de Angra 1, 2 e 3. O País abriga também o Centro Experimental Aramar, o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), a Unidade de Concentrado de Urânio, na Bahia, e a Fábrica de Combustível Nuclear/INB em Resende (RJ).

http://terramagazine.terra.com.br/blogdaamaliasafatle/blog/2014/04/10/estudo-aponta-contradicoes-e-baixa-transparencia-da-politica-nuclear-brasileira/

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