Ser verde é viável, prova Alemanha

The New York Times / Folha de S. Paulo
POR MELISSA EDDY

JANEIRO 21, 2016

BERLIM — Muitos líderes políticos e empresariais zombaram quando a Alemanha decidiu fazer uma transição para a energia renovável, comprometendo-se a desenvolver novas fontes de eletricidade, a reduzir o consumo, a eliminar gradualmente a energia nuclear e a investir em um futuro com pouco carbono.

No entanto, em 2014, a Alemanha, quarta maior economia do mundo, atingiu um marco ao conseguir reduzir o seu consumo geral de energia ao mesmo tempo em que apresentava um crescimento econômico, modesto, de 1,5%. Rompia assim um tradicional padrão segundo o qual o consumo energético só cai em períodos de recessão. A participação da energia renovável continuou crescendo, enquanto o uso de combustíveis fósseis diminuiu.

“A Alemanha é o primeiro país do mundo a se mostrar capaz de dissociar o crescimento [econômico] da queima de combustíveis fósseis”, disse Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial.

O esforço alemão não é isento de desafios. Apesar de ter reduzido o uso da energia nuclear, o país ainda depende do carvão. É um problema que a Alemanha precisará encarar se quiser cumprir a meta de reduzir suas emissões poluentes em 40% até 2020 com relação aos níveis de 1990.

Os consumidores alemães estão sendo chamados a bancar grande parte da transição energética, que segundo cálculos do governo exigirá € 500 bilhões até 2050. Isso deixou as famílias com contas de luz bem mais caras do que em outros países.

Recentemente, os especialistas passaram a alertar para o aumento das emissões decorrente da chegada de mais de 1 milhão de imigrantes no ano passado.

“É importante abordarmos a questão populacional agora, ou ela pode ameaçar nossas metas para 2020”, disse Andreas Löschel, professor de economia e assessor do governo.

Ainda assim, Barbara Hendricks, ministra alemã do Meio Ambiente, disse que a capacidade de expandir a economia reduzindo o consumo energético foi um grande feito. “Esse é o ponto decisivo para a sustentabilidade, ser tão ou mais bem-sucedido usando menos recursos”, disse.

A Alemanha já cumpriu a sua meta de ampliar a quota de energia gerada por fontes renováveis, sem com isso prejudicar a indústria nem mergulhar a nação na escuridão. Em 2014, essas fontes de energia representaram 27,8% de toda a energia consumida, desbancando pela primeira vez a linhita —o carvão marrom, combustível fóssil favorito do país. A meta nacional para as energias renováveis é de 35% até 2020.

No longo prazo, a Alemanha mantém as suas ambiciosas metas de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 80% até 2050, com relação aos níveis de 1990, sendo que 60% da sua matriz energética deverá se basear em fontes renováveis.

Em 2011, um tsunami no Japão e o subsequente derretimento dos reatores atômicos de Fukushima conseguiram algo que décadas de protestos antinucleares não obtiveram: levaram o governo da chanceler Angela Merkel a acelerar os esforços para desativar até 2022 todos os 17 reatores do país, uma fonte importante de energia com baixos níveis de emissões.

Isso dificultou ainda mais a transição energética, e muitos líderes empresariais se queixaram do aumento do preço da energia em decorrência dos impostos elevados e das sobretaxas que financiaram o processo. O governo reagiu abolindo a sobretaxa para empresas que comprovarem a necessidade de uso energético intensivo; cerca de 2.000 companhias ganharam isenção.

A conta ficou com o consumidor. No entanto, uma pesquisa do instituto TNS Infratest mostrou que a maioria dos alemães continua apoiando o esforço de transformação energética, sendo que 67% se dizem favoráveis às políticas governamentais. Algumas empresas veem esse plano como uma oportunidade para expandir o mercado dos seus produtos.

No entanto, a Alemanha ainda não resolveu totalmente o desafio quase universal de levar a energia alternativa aonde ela é mais necessária.

Além disso, a linhita é o ponto fraco do país. Se por um lado tarifas generosas foram oferecidas para acelerar o investimento em energia solar e eólica, não houve incentivos semelhantes voltados para resolver a dependência em relação ao carvão mineral.

A ministra Hendricks propõe que o país feche suas usinas termoelétricas a linhita dentro de 20 a 25 anos. A Alemanha, segundo ela, precisa definir metas e se dispor a trabalhar na sua direção. “Todos estão nos observando.”

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