Fukushima: confissões arrepiantes do responsável pelo desmonte da usina nuclear

De Chernobyl se diz que seu acidente nuclear ainda não terminou. De Fukushima já se pode falar que nunca terminará…  

Em entrevista concedida dia 20 de dezembro à Agência Associated Press, o responsável pela reparação da usina de Fukushima confessou que ele não poderia prever o custo dos trabalhos para garantir a segurança das instalações, nem fixar uma data para os reatores derretidos deixarem de ameaçar a saúde dos trabalhadores da empresa e os habitantes da região, uma vez que os edifícios acidentados continuam a poluir os subsolos e a atmosfera.

Masuda Naohiro disse mesmo que ele ignorava se, quando e como os novos robôs conseguiriam explorar os restos de reatores derretidos, para verificarem em que ponto está a reação que continua desprendendo um calor de aproximadamente 100° e emanações radioativas. Ele reconheceu igualmente que tinha de lidar com uma verdadeira “zona de guerra”. São declarações que contrastam com as afirmações do governo japonês que repete regularmente que a situação está totalmente sob controle.

Esse funcionário da Tepco, empresa proprietária da usina, precisou que os engenheiros não sabiam nem mesmo onde se encontrariam os restos dos reatores, nem como seria possível extraí-los de onde estiverem. Ele ignora também se os trabalhos necessários podem ser iniciados antes de uma dezena de anos. Com esta precisão: “uma nova ciência deverá ser inventada para começar a limpeza e para isso será necessário levar em conta os riscos corridos pelos assalariados e pelo meio ambiente”. Mais ainda porque os elementos radioativos continuarão a escapar para as águas subterrâneas, para o mar e para o ar.

São confissões que contradizem radicalmente as declarações tranquilizadoras e as mentiras contadas pelos responsáveis da usina por ocasião da visita de Politis às instalações e à região no final de setembro último. Eram declarações de “propaganda” desmentidas alias pela maior parte dos instrumentos de medida automática da radioatividade colocados no canteiro de obras, pelas roupas especiais usadas por muitos técnicos e pelo abandono no local de centenas de carros e maquinas fortemente contaminados.

Em conclusão, Masuda Naohiro, que trabalha há 30 anos para a Tepco, assegurou que, de agora em diante, anunciaria tanto as boas como as más notícias. Ele nada disse, no entanto, sobre a boa vintena de milhões de toneladas de rejeitos radioativos amontoadas sob simples lonas nos campos circundantes…

(matéria publicada em 20 de dezembro de 2015 pelo semanário francês “Politis”)

 

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