Verdes do Japão informam sobre a real situação de Fukushima

Publicado em 19 de março de 2014 no Instituto Carbono Brasil.

No final do ano passado a Liderança do Partido Verde encaminhou correspondência aos Verdes do Japão indagando sobre a real situação de Fukushima. A dúvida era pertinente, afinal a grande mídia e as redes sociais têm apresentado informações que mais confundem do que esclarecem. Desde março de 2011, quando os reatores explodiram na usina nuclear de Fukushima, as notícias têm sido muitas, variando entre o tom apocalíptico, a superficialidade e o otimismo exagerado.

A resposta, em e-mail assinado por Rikiya Adachi, membro do Comitê Diretivo das Relações Internacionais do Partido Verde do Japão, chegou em fevereiro de 2014. A mensagem mostra como a situação local é extremamente complicada: o Governo estaria mentindo para a população, a empresa proprietária da usina (a TEPCO) não sabe o que fazer, a contaminação estende-se bem além do Japão.

Os Verdes do Japão são um grupo de militantes ambientalistas e políticos que ainda pleiteiam o status de partido, mas há muito tempo agem em defesa do meio ambiente e da sustentabilidade. Para eles, depois de o mundo experimentar Hiroshima, Nagasaki, Chernobyl e Fukushima, está na hora de acordar e se movimentar para fazer parar qualquer tipo de desenvolvimento nuclear. Isto é válido não apenas para o Japão, mas para todos os países, como o Brasil, que possuem usinas nucleares.

Veja uma síntese das informações exclusivas recebidas pela Bancada Verde:

Continuidade do programa nuclear japonês

Após o acidente de Fukushima, o governo, que naquela época era dirigido pelo Partido Democrata, decidiu abandonar a energia nuclear até 2030. Mas, em consequência das eleições nacionais para a Câmara dos Deputados, em dezembro do ano passado, e para Câmara Alta, em julho deste ano, o Partido Liberal Democrático (LDP), que havia promovido a energia nuclear por um longo tempo, renasceu. A administração atual do LDP elaborou um Plano Diretor de Abastecimento de Energia do Japão, de acordo com o qual o governo japonês “coloca a fonte nuclear como um dos recursos básicos mais importantes para obtenção de energia”. Isso significa um retrocesso da história.

Situação da usina de Fukushima

A usina nuclear de Fukushima Daiichi tem seis reatores. Incluindo, os edifícios de reatores de números 1, 2, 3 e 4, que explodiram. Os combustíveis nucleares dos reatores números 1, 2 e 3 foram derretidos através do vaso recipiente. No reator nº 4 não havia combustível nuclear por causa da verificação periódica, de modo que não havia risco, mas havia um monte de combustível nuclear na piscina de combustível irradiado – a piscina foi severamente danificada pelo terremoto e pela explosão de hidrogênio.

O que a TEPCO (Tokyo Eletronic Power Company) tem feito é apenas derramar água nos reatores para esfriar os combustíveis nucleares que derreteram. Mas a TEPCO, como qualquer pessoa, não saberia dizer exatamente onde e como estão os combustíveis nucleares derretidos. Além disso, eles estão produzindo 400 toneladas de água contaminada por dia (por causa do despejar de água para resfriar os combustíveis nucleares derretidos). Eles (os técnicos da TEPCO) estão recolhendo e transferindo essa água para tanques, mas a quantidade de água contaminada é tanta que está chegando ao limite. A TEPCO introduziu dispositivo para purificar a água contaminada, mas não está funcionando bem ou, melhor dizendo, está quase sem funcionar. Mesmo que funcionasse, ele não poderia descontaminar o trítio.

Sobre a situação atual dos combustíveis nucleares que se derreteram nos reatores nº 1, 2 e 3 não há certezas – por causa do nível extremamente elevado de radiação é impossível uma verificação por humanos ou por máquinas. O que está claro é que ela é aberta para o ar e para a água, então a usina nuclear Fukushima Daiichi ainda está emitindo grande quantidade de radiação para a atmosfera. A TEPCO não pode fazer nada para impedir o vazamento de radiação, porque é tecnicamente impossível.

Região contaminada

A área contaminada é muito vasta. Um círculo com 20 km de diâmetro em torno da usina nuclear de Fukushima Daiichi foi definido como zona de evacuação, mas a verdade é que a área contaminada é muito mais ampla do que a zona de evacuação oficial ou a determinada pela prefeitura de Fukushima. Em Tóquio, que se situa a cerca de 250 km de Fukushima, muitos pontos contaminados foram descobertos. Isso significa que Tóquio não é mais um lugar seguro para viver. Mesmo na província de Shizuoka, que se situa a cerca de 400 km da usina, certa quantidade de radiação foi detectada em folhas de chá.

Contaminação marinha

O mais grave é a contaminação do mar. Ninguém sabe exatamente o quão longe a radiação chegou até o momento. Diz-se que contamina todo o Oceano Pacífico. Claro que, como resultado, os peixes marinhos e outros frutos do mar estão contaminados. Em especial, precisamos prestar atenção para a contaminação das espécies que estão no nível mais alto da cadeia ecológica, como o atum e as baleias. Na verdade, em muitas espécies de peixe do Oceano Pacífico foi detectada certa quantidade de radiação. De acordo com especialistas, estima-se que materiais radiativos já atingiram a costa oeste dos Estados Unidos.

Níveis de radiação e componentes radiativos

Ninguém sabe exatamente a quanto chegou. Diz-se que até 12 de abril de 2011 a quantidade de contaminantes chegou a 77 terabecquerel (1 terabecquerel = 1.000.000.000.000 becquerel). Depois a TEPCO disse que a quantidade de vazamento de contaminantes por mês é de 400 milhões de becquerel. Os contaminantes são, principalmente, iodo, césio, estrôncio e trítio. Um total de 31 substâncias nucleares vazou e está vazando ainda agora. Também urânio, plutônio e substâncias nucleares derivadas da degradação do urânio foram detectados.

Armazenamento de substâncias radiativas

Não há nada armazenado. Além disso, ninguém sabe como coletar e armazenar os combustíveis nucleares derretidos até agora. A TEPCO e o governo disseram que: “a partir de agora, vamos desenvolver uma técnica para coletá-los e armazená-los”. Mas até o momento não existe tal técnica. Vamos rezar para que os cientistas, especialistas e peritos possam desenvolver esse tipo de técnica tão cedo quanto possível, mas na realidade não existe tal coisa.

Vítimas do acidente

Não há ninguém que tenha morrido diretamente por causa do acidente das usinas nucleares. Mas foi relatado que o número de mortes relacionadas ao desastre chega até 1.600 pessoas (não diretamente afetadas pela radiação). Muitas pessoas morreram por “razões inexplicáveis ” – morte súbita por ataque cardíaco e assim por diante –, mas é impossível provar a relação entre as mortes e a exposição à radiação. Especialistas afirmam que haverá grande número de pacientes com doenças causadas pela exposição à radiação. Em cinco anos, espera-se o surgimento de grande quantidade de pacientes com câncer de tireoide na infância. Já há cerca de 100 vezes mais crianças suspeitas de câncer de tireoide do que o normal.

Ações do governo

O governo paga a compensação para a área evacuada, mas isso é quase tudo. No primeiro momento do acidente, escondeu informações sobre a difusão da radiação, expondo a população ao risco de contaminação. Além disso, tem manipulado os níveis de radiação medidos em vários pontos. Mediram a dose de radiação de um ponto localizado a mais de 1 m abaixo do solo. Nesse caso, mesmo que o solo esteja contaminado na superfície, o nível detectado de radiação é muito mais baixo do que o nível real.

E, pior ainda, faz propaganda do tipo: “certa dose de radiação é segura e não há nenhum problema para a saúde”, ou “às vezes é até bom para a saúde”. Muita gente acredita que, como há um grande número de pessoas vivendo na área contaminada e ganhando a vida como de costume, está tudo normal.

Reações do povo japonês

Segundo pesquisa, a maioria das pessoas no Japão acha que devemos encerrar as atividades de todas as usinas nucleares de uma só vez ou em um futuro próximo. Desde o acidente até agora muitas pessoas têm ido às ruas manifestando-se pela parada das usinas nucleares. Em alguns momentos o número de manifestantes foi além de 200 mil em torno da Dieta Nacional (o parlamento japonês) e do escritório do primeiro-ministro. Foi a primeira vez que se reuniu tal número de pessoas neste meio século. A maioria dos japoneses não aceita a continuidade das atividades industriais e o programa nuclear do Japão.
Fonte: Instituto Carbono Brasil.

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