Ex-primeiro ministro Koizumi defende o fim da energia nuclear no Japão

Publicado em 13 de novembro de 2013 no Financial Times (Europa).

Por Jonathan Soble em Tóquio

Com um povo agitado com os problemas de limpeza na central nuclear Fukushima Daiichi, a tentativa de Shinzo Abe de reviver a indústria de energia atômica no Japão enfrenta obstáculos formidáveis desde o início.

Agora, o primeiro-ministro japonês está sendo forçado a enfrentar um novo obstáculo inesperado na forma de seu mentor político, o ainda muito popular, ex- prêmier Junichiro Koizumi.

Ontem, em um discurso no clube da imprensa nacional do Japão, Koizumi fez seu mais contundente e direto apelo público para que seu país abandone a energia atômica.

E, esclarecendo um ponto sobre o qual ele tinha sido anteriormente vago, Koizumi disse que tal política deveria ser implementada “imediatamente”, o que significaria dizer que as plantas que foram fechadas por avaliações de segurança não devem ser reiniciadas, até mesmo como medida paliativa; enquanto fontes de energia alternativas são desenvolvidas.

“Zero nuclear é a melhor escolha. As empresas e os japoneses podem se preparar para isso”, disse ele.  Referindo-se a seu protegido, Shinzo Abe, acrescentou: “se o primeiro-ministro decidir sair do nuclear, isto pode ser feito.”

Koizumi é o líder político japonês mais antigo dos últimos 40 anos, fez um governo conservador, mas reformista, como primeiro ministro de 2001 a 2006. Ele foi, como a vasta maioria dos membros do Partido Liberal Democrata (PLD) e o atual primeiro-ministro Shinzo Abe, um grande apoiador da energia nuclear.

Durante o seu tempo em exercício, o Japão pôs quatro novos reatores nucleares em serviço e a sua administração aprovou e apoiou esforços de construir ainda mais, incluindo dois em Fukushima Daiichi, plano que evaporou com a devastação causada pelo terremoto seguido de tsunami e o derretimento das instalações em março de 2011.

A conversão de Koizumi pós-Fukushima tem o colocado em desacordo com Shinzo Abe, que descreve o seu ponto de vista como “irresponsável”.

Tratando dessa questão no parlamento no mês passado, Abe disse: “Como a pessoa responsável pelo governo, é meu trabalho avançar com uma política energética que garanta que não haverá nenhum obstáculo para a vida das pessoas ou para a economia”.

Nenhum dos 50 reatores utilizáveis no Japão está gerando energia, um desligamento que cria problemas para um país que antes de Fukushima contava com essa tecnologia em quase 30 por cento de toda a sua eletricidade.

A necessidade de importar mais gás natural e outros combustíveis tem aumentado as contas de energia elétrica e as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para déficits comerciais persistentes.

Abe apoia reiniciar plantas que passaram na inspeção das novas regras de segurança nuclear.

Os órgãos públicos tem certificado cerca de uma dúzia de reatores. As primeiras decisões são esperadas já na próxima primavera.

Ministros e governos locais ainda teriam que concordar com o religamento, o que significaria que a opinião pública vai estar pesadamente ao lado dos vereditos dos peritos.

Em uma pesquisa publicada pelo jornal Asahi ontem, 60 por cento dos pesquisados disseram que apoiam o pedido de Koizumi de abandonar a energia nuclear, contra 25 por cento favoráveis ao uso contínuo da tecnologia.

Além do choque do desastre inicial, que cobriu uma vasta área com contaminação de baixo nível e afastou dezenas de milhares de pessoas de suas casas, o vazamento subseqüente de água irradiada do local tem causado profundo desconforto público.

Koizumi começou a expressar essas suas novas visões anti-nucleares no início deste ano, no começo em conversas privadas, em seguida, em pequenas reuniões de partidários e discursos a líderes empresariais. O discurso no clube da imprensa levou sua campanha para um fórum público ainda maior.

Ao explicar sua mudança de opinião, ele tem falado muito sobre os desafios não resolvidos da eliminação dos resíduos nucleares, como os efeitos do acidente de Fukushima.

“Eu acho que devemos ir imediatamente para o zero”, disse ontem Koizumi, ao falar sobre o seu plano ideal de abandono da energia atômica. “Se nós reiniciarmos os reatores, os resíduos nucleares irão só aumentar.”

Koizumi construiu sua longa administração com uma super-habilidade de ler o humor do público, e alguns analistas buscam encontrar mais motivos por trás dessa sua conversão.

Uma teoria é que Koizumi está tentando criar uma plataforma popular para o seu filho e herdeiro político, Shinjiro, que foi eleito na antiga cadeira de Koizumi, em 2009, embora Shinjiro seja evasivo sobre a questão nuclear.

Ontem, Koizumi não escondeu a sua crença de que uma política não-nuclear poderia ser a melhor estratégia eleitoral para os Liberais Democratas.  “Todos os outros partidos concordam [com o abandono da energia nuclear]”, ele disse. O PLD é o único que se opõem.

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