CRÔNICA: O RATO ATÔMICO

Publicado em 22 de março de 2010 na CPT Bahia.

Eita…! Um tempo grande sem esse contato com os amigos leitores, os dedos coçando para batucar nas teclas e compor nossa crônicas habituais e as coisas acontecendo. Pois é, voltei. E não é que na minha volta ganhei um assunto danado de bom para recomeçar a faina? Os amigos ficaram sabendo que um rato entrou pelos canos da INB e parou o tal complexo mortífero, quer dizer, uranífero? Pois foi. Gente de dentro daquele caldeirão explosivo que me contou. Um ratinho qualquer, um camundongo de nada, foi capaz de provocar um estrago grande nas instalações que a ONU acabou de dizer que é segura e tudo, que não provoca danos ao meio ambiente, que deve ser motivo de orgulho para todos os caetiteenses. Um rato, vejam só, conseguiu o que o Ministério Público Federal, a justiça estadual e mais um monte de gente não conseguiu, isto é, parar a INB!

E fiquei pensando nisto por muitos dias, tentando encontrar um modo de transformar a informação em crônica, mas é como sempre digo, tem crônica que já nasce pronta, e essa, sem dúvida, é uma delas. Imaginem os amigos o ratinho, curioso como todos os ratinhos, olhando para o cano lá na INB. Entro ou não entro? Entrou. Talvez já desesperado com os eflúvios daquele complexo infernal, talvez já sujinho do pó amarelo que produzem ali, talvez já cansado de ouvir a propaganda enganosa daquela empresa que infelizmente é pública, o coitado do rato resolveu se aventurar pelos dutos da mina. Queimou-se, por certo, e queimou com ele toda a segurança, falsa, que alardeiam os senhores do urânio em nossa terra. Prejuízo na casa da centena de milhares de reais por certo levamos nós, contribuintes, que ao fim e ao cabo, sustentamos aquele colosso infeliz.

Um rato, senhores e senhoras, um simples camundongo, e toda a estrutura dita como eficiente, limpa e segura, foi pelos ares. Funcionários de folga, produção parada e a pergunta no ar: se um rato é capaz de provocar tamanho estrago naquela bomba atômica que nos avizinha, o que fará um raio, uma tempestade enorme, ou outra ocorrência do tipo? Qual é a segurança que um complexo que não resiste a um rato pode oferecer?

Mas pensando bem, há muito que ratos de toda espécie transformam o programa nuclear brasileiro em uma ratoeira perigosa. Esse, o que paralisou a INB em Caetité, é só mais um dentre tantos outros. Mas que ele nos deu uma lição, lá isto deu. Tristes os tempos em que um rato pode mais do que os homens de boa vontade. Um rato, a essa altura bem morto, foi capaz de produzir uma mensagem significativa, um rato qualquer, um camundongo vagabundo, mas que nos alerta com o sacrifício da sua vida: segurança, definitivamente, não faz parte do trabalho do pessoal que hoje, pagos com o dinheiro de todos nós, contribuintes, cuida da INB em nossas terras. Portanto, como não poderia deixar de ser, rosas vermelhas para o rato que jogou por terra a propaganda enganosa da segurança existente no complexo uranífero de Caetité, rosas vermelhas para que ele, o rato imolado nos dutos do infer no atômico local, descanse em paz, ele, por que nós, depois desta, definitivamente jamais poderemos descansar e nem viver em paz…

Fabiano Cotrim

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