Publicado em 18 de junho de 2012 no O Globo.
RIO — A Região Nordeste não precisará mais construir usinas nucleares pelo menos nos próximos 20 anos. O assessor da presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, disse há pouco que a estatal suspendeu os estudos para a construção de novas centrais no país — além de Angra 1, 2 e a 3 em construção — aguardando novo Plano Nacional de Energia para 2035. O plano anterior, lançado em 2007, previa a necessidade de mais quatro novas usinas nucleares no país até 2030, das quais duas seriam no Nordeste e duas no Sudeste.
Leonan que participou há pouco no Rio da conferência sobre energia nuclear e realizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), um evento paralelo à Rio+20, disse que os cenários mudaram e tudo indica que não haverá necessidade de energia nuclear no Nordeste nos próximos anos.
— De lá para cá (2007) mudaram muito os cenários. Hoje tem um quadro de que terá muito mais excedente de energia no Nordeste, do que se tinha naquela época. E por outro lado tem uma carência no Sudeste e no sul. O plano vai ser atualizado para 2035, e tudo indica que o Nordeste hoje é exportador de energia. Me parece que do ponto de vista do planejamento energético talvez o nordeste não será prioridade, talvez a prioridade possa vir a ser o Sudeste ou o Sul — destacou Leonam.
A Eletronuclear suspendeu os estudos que realizava para a localização das quatro próximas usinas nucleares desde que o governo federal anunciou que pelo menos até 2021 o Brasil não precisará de novas usinas nucleares.
Mas a Eletronuclear espera que já nos planos de 2022 ou 2023 o governo volte a incluir a necessidade de novas usinas nucleares no país. Como o prazo médio de construção de uma nuclear é da ordem de cinco anos, a construção da quarta usina teria que ser por volta de 2017, e os seus estudos de localização devem ser feitos antes. Por isso é que a Eletronuclear aguarda a nova sinalização do governo quanto ao futuro de usinas nucleares.
Leonam Guimarães destacou nb debate que a energia nuclear é fundamental para manter a sustentabilidade do planeta nos próximos anos, por ser uma energia limpa e ter menor impacto ao meio ambiente.
O especialista e engenheiro nuclear Joaquim Francisco de Carvalho é mais radical e acha que o Brasil não necessita de novas usinas em qualquer parte e deveria até mesmo desativar as atuais em operação.
Segundo Joaquim de Carvalho, se por questões sociais e ambientais o país aproveitar apenas 70% da capacidade hidráulica ainda por explorar na Amazônia, 80% da capacidade das demais regiões e 50% da capacidade eólica,se poderia ter um sistema interligado inteligente (“smart grid”) capaz de oferecer anualmente cerca de 1,4 bilhão de megawatts/hora (MWh) a partir de fontes inteiramente renováveis. Isso, segundo Joaquim de Carvalho, será suficiente para atender a uma demanda per capita da ordem de 6.600 quilowatts/hora ( kWh) — semelhante ao padrão atual da Alemanha — na década de 2040, quando, segundo o IBGE, a população estará estabilizada em 215 milhões de habitantes.