Instituto Humanitas Unisinos
Quinta, 14 de janeiro de 2016
Quanto custará enterrar os resíduos radioativos franceses no subsolo da comuna de Bure, no departamento de Meuse?
Desde o início do projeto do Cigéo (Centro Industrial de Armazenamento Geológico), o número permanece desconhecido. Contudo, será uma instalação grande, uma vez que se trata de enterrar, a 500 metros de profundidade, os 80 mil metros cúbicos de resíduos de alta atividade e vida longa (centenas de milhares ou milhões de anos para alguns deles) produzidos pelo parque eletronuclear da França.
A reportagem é de Pierre Le Hir, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 14-01-2016.
Em 2005, a conta havia sido estimada entre 13,5 bilhões de euros e 16,5 bilhões de euros (R$ 58 bilhões e R$ 71 bilhões). Em 2009, a Andra (Agência Nacional para Gestão dos Resíduos Radioativos), encarregada desse projeto, o elevou para 36 bilhões de euros (R$ 155 bilhões). Mas esse montante era contestado pelos produtores de resíduos: EDF, para os reatores nucleares; Areva, para as usinas de reprocessamento do combustível; e CEA, para os centros de pesquisa.
Em um dossiê de avaliação enviado ao Ministério do Meio Ambiente em outubro de 2014, até então inacessível ao público, a Andra agora estima o custo do projeto em cerca de 34,5 milhões de euros, sendo 19,8 bilhões para a construção, 8,8 bilhões para a exploração durante mais de cem anos, e 4,1 bilhões em impostos e taxas, aos quais se somam 1,7 bilhão em despesas diversas. Isso, nas condições econômicas de 2012.
Atualmente cabe à ministra do Meio Ambiente estabelecer, por decreto, o “custo de referência” da instalação. Ségolène Royal deverá decidir “em breve”, afirma seu gabinete. Decidir porque, em suas observações, a EDF, a Areva e o CEA propõem que se estabeleça um custo muito inferior, de somente 20 bilhões de euros, modulado por uma “margem de riscos a ser determinada”. Segundo os três produtores de resíduos nucleares, chamados a financiar a instalação, a Andra não teria levado em conta todas as “otimizações” possíveis e alguns de seus cálculos teriam se afastado do “feedback industrial”.
Enorme diferença
Como a ministra decidirá? Entre 20 bilhões de euros e 34,5 bilhões de euros, a diferença é enorme. A questão principal é a da segurança. A ASN (Autoridade de Segurança Nuclear) publicou, na segunda-feira (11), sua opinião sobre o dossiê de avaliação, entregue em fevereiro de 2015 mas até então sob sigilo.
Aparentemente “certas hipóteses adotadas pela Andra, de ordem técnica e econômica, são otimistas demais e por isso não conformes à obrigação necessária de cautela”. Resumindo, a própria avaliação da Andra estaria subestimada.
Em especial, explica Jean-Christophe Niel, o diretor-geral da ASN, o dossiê da Andra não leva em consideração a possibilidade de que o volume de resíduos a ser estocado seja maior que o previsto, no caso de uma interrupção do reprocessamento do combustível. E ele aposta em “oportunidades” de redução de custos (galerias subterrâneas mais longas e alvéolos de armazenamento de toneis radioativos maiores, por exemplo) cuja “demonstração de segurança ainda deve ser feita”.
De qualquer forma, o “cemitério radioativo” de Bure, como chamam seus opositores, deverá vencer ainda várias etapas: primeiro, uma lei sobre a reversibilidade do armazenamento; e depois, em 2018, um pedido de autorização de criação, com consulta pública, antes de ser eventualmente colocado em operação em 2025, para uma fase piloto de cinco a dez anos.