Central nuclear de Fukushima começa o polémico despejo de água no mar

Do site Esquerda.net

A Tepco garante que a operação não traz riscos para o meio ambiente. Relatório da Califórnia afirma que níveis baixos de radiação foram constatados em peixes no Pacífico. Por Fernanda B. Müller do Instituto CarbonoBrasil.
Foto de Agência Internacional de Energia Nuclear

Foto de Agência Internacional de Energia Nuclear

Após meses de polémicas, especialmente com os pescadores japoneses, a Tepco, operadora da central nuclear de Fukushima, extremamente danificada no terramoto seguido de tsunami que assolou o Japão há três anos, nesta quarta-feira (21) começou o despejo de 560 toneladas de água subterrânea no Oceano Pacífico.

Segundo o jornal Japan Times, a iniciativa é uma tentativa de gerir as enormes quantidades de água radioativa que se vêm acumulando no complexo nuclear de Fukushima.

A Tepco, operadora da central, alega que a água está dentro dos limites legais de radiação estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, pois foi captada antes de chegar à base dos reatores danificados. A empresa pretende também utilizar o mesmo sistema de desvio da água para despejar mais 100 toneladas de água por dia no oceano.

Diariamente, cerca de 440 toneladas de água descem das montanhas ao redor da unidade e misturam-se com água radioativa utilizada para resfriar os reatores. Assim, a Tepco estaria a tentar reduzir a quantidade de água contaminada.

“Gostaríamos de expressar o nosso sincero agradecimento a muitas partes, incluindo à Câmara de Fukushima e aos membros do setor pesqueiro, pela compreensão na operação de desvio da água subterrânea, que tem um papel importante entre as medidas para suprimir o aumento da água contaminada”, declarou o presidente da Tepco, Naohiro Masuda.

Contaminação do Oceano

Os temores de que a radiação de Fukushima se espalhasse pelo Oceano Pacífico de forma perigosa, já que volumes massivos de água radioativa foram despejados logo após o acidente em 2011, estão a diminuir aos poucos.

Um relatório da Comissão Costeira da Califórnia publicado no final de abril constatou a presença de radiação na costa do estado norte-americano, mas em níveis muito baixos.

“Nos últimos três anos, a nuvem de radiação do oceano tem sido arrastada para leste por correntes oceânicas, estando cada vez mais diluída ao espalhar-se por uma área ampla e misturar-se em grandes profundidades”, diz o relatório, completando que a nuvem pode alcançar a Ilha de Vancouver e possivelmente a Califórnia no próximo ano.

Os radionucleídeos derivados de Fukushima, especialmente o césio-137 – que tem uma meia-vida de 30 anos – devem apresentar quantidades levemente acima dos níveis pré-acidente, nota.

“O césio derivado de Fukushima foi detetado em níveis baixos nos tecidos de espécies de peixe altamente migratórias, como o atum azul do Pacífico”, notou o relatório.

A conclusão da comissão é que haverá “pouco risco adicional para os seres humanos e a vida marinha”, porém, “que deve-se notar que os efeitos a longo prazo dos baixos níveis de radiação no ambiente permanecem compreendidos de forma incompleta”.

Contradições

Nesta semana, o jornal japonês Asahi Shimbun revelou que no momento das explosões em março de 2011, 90% dos trabalhadores da central fugiram, contrariando as ordens de permanência. O jornal teve acesso a um depoimento que ainda não havia sido divulgado do gerente da central na época, Masao Yoshida, que morreu de cancro em julho do ano passado.

A versão da Tepco sobre o episódio era bem diferente, alegando que houve uma evacuação controlada do local. Isso coloca em cheque, mais uma vez, a credibilidade da empresa.

Em diversos episódios, a Tepco foi acusada de esconder e manipular informações, sobretudo em episódios de derramamento da água radioativa da central para o mar.

A batalha do governo para religar alguns dos 50 reatores desativados em 2011 continua inglória. Na quarta-feira um tribunal decidiu que uma central no oeste do país não seja reativada, como pretendido pela Câmara de Fukui.

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