Enquanto isto, a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) anuncia “educação ambiental” no ar
Mais uma vez, atividades do Programa Nuclear Brasileiro foram interditadas por uma força-tarefa, capitaneada pelo Ministério Público Federal do Trabalho, em inspeção realizada na semana passada, na unidade das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) que, em Caetité (Bahia), dá inicio à cadeia de produção de energia nuclear. A área 140, vital no processo de produção do concentrado de urânio, que gera matéria prima para usinas nucleares, está com atividades suspensas. Ela engloba quatro tanques de decantação e filtragem de licor de urânio, e segundo se comenta, apenas um deles não estaria furado. Uma manta de impermeabilização recentemente adquirida para o tanque 1402, recorrente na apresentação de problemas, apresentou furos, antes mesmo de ser usada.
Ainda não se sabe o resultado completo da ação, que atendeu a reivindicação de movimentos sociais e trabalhadores ao Ministério Público Federal do Trabalho, que nos últimos anos, recebeu inúmeras denúncias de irregularidades na mineração de urânio, como terceirização ilegal, assédio moral, contaminação de trabalhadores e prática antisindical. O fato animou entidades da sociedade civil e o Sindicato dos Mineradores. Há anos, eles denunciam crimes sócio-ambientais e trabalhistas, que apesar de reconhecidos oficialmente, seguem impunes por mais de uma década.
Segundo informação de trabalhadores, a surpresa da chegada da força-tarefa deixou atordoados dirigentes e empregados comissionados da empresa. A fiscalização aconteceu durante dois dias (18 e 19 de fevereiro) e destoou do estardalhaço que a INB fazia, no mesmo período, informando, em out-doors pela cidade, que era a mais nova anunciante da Rádio Educadora Santana de Caetité, emissora da Igreja Católica, onde faz agora um “programa educativo”.
A INB, que fechou 2013 acumulando várias irrgularidades, como vazamentos de licor radioativo, de contaminantes químicos e baixa produção, recebeu 2014 com previsão de interrupção de atividades, devido a inúmeros problemas técnico-operacionais que evidenciam a incompetência e irresponsabilidade do Programa Nuclear Brasileiro. Certamente, devido a esta última interdição determinada pela força-tarefa em 19 passado, o Brasil voltará a importar urânio, para garantir o combustível das usinas Angra 1 e 2. O próprio presidente da INB, Aquilino Martinez, no final do ano passado, já previa a importação do minério e admitia os dilemas enfrentados pela empresa. Explicando porque a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) não autoriza a realização de obras, afirmou: “Lá, a questão não é de radioatividade. É de mineração. A preocupação é que não despenque uma parte da jazida”, explicou.
Diante de tanta insegurança e da falta de transparência, que caracterizam o Programa Nuclear Brasileiro, trabalhadores e as populações do semiárido baiano aguardam ansiosos a divulgação do trabalho completo da força-tarefa, na expectativa que ela tenha vistoriado também a área 110, do depósito do lixo nuclear, e a área 170, de precipitação, filtração, secagem e entamboramento do minério, consideradas das mais perigosas para o meio ambiente no trabalho, bem como prejudicial para a natureza. A expectativa é que esta fiscalização represente o fim de um ciclo de impunidade que só tem prejudicado trabalhadores e populações do sudoeste baiano, especialmente as comunidades rurais, afetadas mais diretamente pela exploração do urânio.
Zoraide Vilasboas
Coordenação de Comunicação