Publicado em 19 de fevereiro de 2013 no Le Monde.*
Diante das 14.000 toneladas de urânio enterradas na Australia setentrional, Areva nutria grandes ambições. A jazida tem um valor calculado em US$2 bilhões, segundo a agência autraliana de noticias ABC News. Mas a empresa gigante da energia nuclear francesa pode engavetar sua licença de exploração e suas veleidades de mineração: os aborígenes ganharam a luta que mantiveram durante décadas contra a exploração de minas no território de Koongarra, conforme relatam um artigo publicado em um blog de Mediapart e um comunicado do Observatório da Energia Nuclear. [n.d.t. ambos franceses]
Quando estas jazidas de urânio forma descobertas, em 1979, a zona de aproximadamente 12km² onde se encontram foi excluída do parque nacional de Kaduku e com isso perdeu a proteção legal. A batalha dos aborígenes, com Jeffrey Lee o proprietário tradicional dessa terra à frente, levou a que a área fosse tombada no ano passado, pela Unesco, como patrimônio mundial da humanidade e a seguir, no mês de fevereiro ela foi plenamente reintegrada ao parque nacional.
Em 2011 uma delegação australiana viajou a Paris para se encontrar com o Comitê da Unesco e convencê-lo a proceder ao tombameto da área onde se encontram as jazidas, conforme relata um artigo da ABC News. De acordo com essa agência australiana de noticias “o governo declarou que a gigante da energia, Areva, havia formalmente pedido que o assunto tombamento de Koongarra fosse retirado da pauta do encontro na Unesco”. O jornal anunciava também que o aborigene (Jeffrey Lee) sofrera “enormes pressões para não atrapalhar os projetos de mineração da Areva e poderia ter se tornado o homem mais rico da Australia caso houvesse cedido. “É legitimo supor que tais ofertas da Areva estivessem relacionadas com a corrupção, não necessariamente do ponto de vista juridico mas seguramente do ponto de vista moral”, acusa o Observatório da Energia Nuclear.
Seja como for, Jeffrey Lee deixou bem claro no site da internet australiana The Age que “o fato dos Brancos me oferecerem isto ou aquilo não me interessa” e que “não estava interessado por dinheiro. Tenho um trabalho. Posso comprar meus alimentos, posso sair para pescar e caçar”. No site Environment News Service [Serviço de Noticias sobre o Meio Ambiente) ele ainda explica: “Eu disse Não às minas de urânio em Koongarra porque eu creio que a terra e os credos da minha cultura são mais importantes que a exploração das minas e o dinheiro. O dinheiro vai e volta mas a terra permanece sempre e sobreviverá se nós cuidarmos dela, e ela cuidará sempre de nós”.
Em Koongarra encontramos arte rupestre aborígene, lugares sagrados, rochas de cor ocre e vegetação. Na concepção aborigene do “tempo do sonho”, explica o site Environmente News Service, o local abriga também a morada de Namarrgon, ser mitológico que domina o raio e “antepassado criador responsável por uma espetacular tempestade elétrica no planalto de Arnhem’. Já então a eletricidade…
* Traduzido por Stella Whitaker