14 de novembro de 2019
MEDIAPART – domingo 17 de novembro de 2019
Após a decisão de transferir a maratona para Sapporo, numerosas personalidades e associações ecológicas interpelaram Thomas Bach, presidente do Comitê Internacional Olímpico: a situação é grave, dizem eles, “vocês se arriscam a se tornarem cúmplices, deixando o mundo inteiro acreditar que o acidente da central de Fukushima não deixou nenhum rastro e que, de agora em diante, faz parte do passado”.
Caro Senhor,
Nós fomos informados sobre sua decisão de transferir a maratona para Sapporo, Hokkaïdo, a fim de minimizar os riscos provocados pelo eventual calor do verão japonês sobre a saúde dos atletas e do público. Nós nos surpreendemos, no entanto, com o fato dos riscos provocados pela radioatividade devida ao acidente da central de Fukushima Daï-ichi não terem sido, ao que sabemos, levados em conta pelo Comitê Olímpico Internacional. É verdade que esses riscos são menos “visíveis” mas são fonte de perigo a longo prazo.
Apesar de passados nove anos, o acidente nuclear de Fukushima não terminou, e continua sendo objeto de uma Declaração de Urgência Nuclear.
Desde mais de 8 anos as liberações de radioatividade não puderam ser estancadas. O acidente provocou uma contaminação radioativa excessiva no Japão como um todo e particularmente na sua região Leste, onde a prefeitura de Fukushima foi violentamente atingida. Esta mesma zona foi, há pouco, atingida pelos tufões Faxai e Hagibis, de uma potência sem precedentes; fortes doses de radioatividade, sempre presente na natureza, foram espalhadas um pouco por todos os lados pelas inundações dos rios, e é obvio que tal disseminação não é controlável.
É incompreensível que seja previsto que a chama olímpica inicie o seu percurso à partir da J village, não distante da central nuclear de Fukushima Daï-ichi, utilizada como centro operacional de gestão do acidente nuclear, e que ela atravesse toda a zona contaminada de um lado ao outro.
As medidas efetuadas sobre os solos em volta do Estádio Azuma Fukushima, onde estão previstas as partidas de baseball e de softball, revelaram uma contaminação que vai até 6176 Bq/kg.
Da mesma forma, na parte da baia de Tokyo onde acontecerão as provas de natação do triathlon, a água não somente é turva e desagradável, mas uma radioatividade considerável aí se acumulou. E é preciso saber que também em Tokyo agora existem numerosos “hot spots” radioativos.
Além da preocupação relativa à saúde dos atletas em geral, nós acreditamos que tal evento, na região de Fukushima em grande parte contaminada por centenas ou milhares de anos, não apaga a gravidade da situação altamente perturbadora dos residentes constrangidos de aí viver. Entre esses, mulheres – grávidas ou em idade de procriar – e crianças são atingidas pela catástrofe e expostas a taxas elevadas de radiações ionizantes. Ao não denunciar a gravidade dessa situação, os senhores se arriscam a se tornarem cúmplices, deixando que o mundo inteiro acredite que o acidente da Central de Fukushima não deixou nenhum rastro e que já faz parte do passado.
Tendo em vista os riscos para a saúde incorridos no Japão, nós lhe pedimos que faça a verificação das doses de radioatividade presentes nas localidades referentes aos Jogos Olímpicos, por cientistas independentes, e que assuma as consequências que se impuserem.
SIGNATÁRIOS:
Françoise Bloch, socio-anthropologue CNRS retraitée, membre de Contratom et de l’ex-collectif IWHO ;
Bruno Boussagol, metteur en scène, Appel du 26 avril ;
Françoise Bouvier, membre de l’ex- collectif IWHO ;
Françoise Chanial, des amis de la Terre et du collectif ADN ;
Martial Château, SDN 72 ;
Odile Gordon-Lennox, membre du comité de l’association « Soigner les Enfants de Tchernobyl » Genève ;
George Gordon-Lennox, journaliste et fonctionnaire international à la retraite ;
Yu Kajikawa, Sayonara Nukes Berlin, Berlin ;
Kolin Kobayashi, journaliste indépendant, Echo-Echanges, Paris ;
Hiroko Komori, Association Plus, Paris ;
Claudio Knüsli, oncologue, membre du comité IPPNW Suisse (International Physicians for the Prevention of Nuclear War), Bâle ;
Bernard Laponche, Association Global Chance ;
Andreas Nidecker, bureau IPPNW Suisse ;
Jean-Luc Pasquinet, Collectif ADN ;
Pierre Péguin, Collectif Arrêt du Nucléaire ;
Jean-Yves Peillard, membre de l’ex-collectif IWHO ;
Eric Peytremann, membre du comité « Soigner les Enfants de Tchernobyl », (Care for the Children of Chernobyl – SET) ;
Claude Proust, juriste retraité EDF, Corenc ;
Anne-Cécile Reimann, Présidente de Contratom, Genève, Suisse ;
Ivo Rens, Professeur honoraire, Université de Genève ;
Philippe de Rougemont, president of Sortir du nucléaire Suisse romande ;
Annick Steiner, membre de l’ex-collectif IWHO, Genève ;
Kurumi Sugita, socio-anthropologue CNRS retraitée, Nos Voisins lointains 3.11 ;
Yûki Takahata, écrivaine, traductrice, Paris ;
Wladimir Tchertkoff, documentariste co-fondateur de l’association Enfants de Tchernobyl Belarus ;
Annie Thébaud-Mony, directrice de recherche honoraire Inserm, IRIS/GISCOP93/GISCOP84 ;
Jean-Luc Tonnerieux, membre de Vosges Alternatives au Nucléaire et de l’ex collectif IIWHO ;
Toshiko Tsuji, membre de Yosomono-Net ;
Erwin Weiss, membre du comité Contratom ;
Olivier Zimmermann…
ASSOCIAÇÕES:
ADN 75
Association Echo-Echanges ;
Collectif contre l’ordre atomique ;
« Enfants de Tchernobyl Belarus », par les huit membres de son CA :
– Marie-Elise Hanne ;
– Michel Hugot, co-auteur et réalisateur des documentaires « Belrad 2015 et Survivre à la pollution atomique » ;
– Yves Lenoir, auteur de « La Comédie atomique » et, avec le cinéaste Marc Petitjean, de « Tchernobyl, le monde d’après » ;
– Catherine Lieber, autrice de la brochure « Introduction à la radio-protection » et du CD « Lune d’Avril » ;
– Jean-Claude et Maryse Mary ;
– Françoise Tailhan ;
– Wladimir Tchertkoff (auteur de « Le Crime de Tchernobyl » et réalisateur des films « Le Sacrifice, Controverses nucléaires » et de nombreux autres documents audiovisuels sur Tchernobyl) ;
Association Henri Pézerat ;
Association Nos Voisins Lointains 3.11 ;
Réseau Sortir du nucléaire, France ;
SDN Berry-Giennois-Puisaye ;
SDN Isère ;
SDN 72 ;
Sortir du nucléaire Suisse romande ;
Yosomono-Net France…