Jiri Smutny, conhecido blogueiro e tradutor tcheco, causou muito barulho na mídia impressa e eletrônica do país, ao ter publicado um artigo em que afirma que os combates no Leste da Ucrânia podem provocar uma nova Chernobyl. Segundo o autor, o perigo de contaminação radiativa, que a imprensa prefere silenciar, existe.
Gaiane Khanova para a Voz da Rússia
Jiri Smutny lembra que no início de julho algumas agências de notícias independentes da Rússia e Ucrânia comunicavam sobre ataques de projéteis e mísseis a uma cidade no sudeste ucraniano, onde estão armazenados resíduos radiativos de equipamentos médicos utilizados para o tratamento de doenças oncológicas.
Por sorte, foi possível evitar a catástrofe naquela altura. Mas um impacto direto de um projétil pode tornar real o perigo de fuga de cobalto-60 e de irídio-192 radiativos e de poluição de grandes territórios, exigindo evacuar centenas de milhares de habitantes por longos anos. O nível de radiação neste caso pode atingir, como escreve Smutny, milhares de microroentgen por hora. A permanência durante uma hora nessas condições leva diretamente à radiolesão aguda.
Armazéns perigosos de materiais radiativos e fontes de radiação ionizante para o diagnóstico e o tratamento de tumores malignos de câncer há em Donetsk, Lugansk, Gorlovka e outras cidades. Na região de ações militares encontram-se 14 centros oncológicos e muitas clínicas especializadas no tratamento da doença mortal. A destruição destes estabelecimentos pode levar a consequências nefastas. Serguei Kushnarev, vice-presidente da SociedadeNuclear da Rússia, comenta essa informação:
“Sabe-se que na medicina são utilizados isótopos radiativos para o tratamento por radiação. É evidente que esses elementos, inclusive o irídio, devem ser utilizados adequadamente e conservados rigorosamente. Mas em condições da guerra, quando até clínicas são atacadas, pode acontecer qualquer coisa. Não posso determinar a escala da possível desgraça”.
Alexei Yablokov, membro correspondente da Academia de Ciência da Rússia e doutor em biologia, também comentou a pedido da Voz da Rússia o artigo de Jiri Smutny:
“Em resultado da destruição de um armazém de resíduos médicos radiativos pode ser poluído um território em que nos próximos 50 anos será registrado um crescimento intenso de doenças oncológicas entre habitantes locais.
Devemos ter em conta que a exposição a 30 microroentgen por hora é uma dosagem habitual, mas 100 microroentgen ultrapassa o limite normal em três vezes e é perigoso viver em tais condições. Tudo depende da envergadura do vazamento de elementos perigosos. As ações militares na Ucrânia poderão levar à verdadeira catástrofe se forem destruídas usinas nucleares locais, em Khmelnitsky, por exemplo, e outras, se for assestado um golpe a um depósito de combustível nuclear usado da estação.
Resíduos radiativos de materiais utilizados na medicina não são muito ativos e a sua meia-vida é relativamente curta. Mas o combustível usado das usinas nucleares contem radionuclídeos alfa e mesmo se um pequeno projétil atingir um depósito comum de concreto, se ocorrer uma fuga de água, terão lugar desgraças gigantescas. Neste caso, a poluição irá ultrapassar em milhões de vezes a provocada pela fuga de isótopos radiativos utilizados na medicina. Mas isso não terá grande importância para as pessoas expostas a essa radiação menos nociva”.